Renda fixa traz ganho a fundações
Enquanto a maioria dos fundos de pensão sua a camisa para atingir rentabilidades mínimas que se comprometeram a entregar para pagar os benefícios futuros, dado o cenário de queda de juros, há fundações que já bateram suas metas de 2012 com folga. É o caso de Eletros, Real Grandeza e Sistel, que obtiveram ganhos com suas posições antigas em títulos públicos de longo prazo e estratégias de renda variável voltadas ao mercado doméstico, com menos exposição a empresas de commodities.
A rentabilidade estimada para o conjunto dos fundos de pensão brasileiros no acumulado do primeiro semestre foi de 5,42%, segundo a Abrapp, associação que representa as fundações. A meta atuarial média para o período foi de 8,71% (INPC mais 6%).
Com patrimônio de R$ 11,5 bilhões, a Real Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas e Eletronuclear, atingiu até setembro rentabilidade de quase 10 pontos percentuais acima da meta atuarial, de INPC mais 6%.
O principal plano da fundação teve rentabilidade de 17,32% nos primeiros nove meses do ano, enquanto a meta atuarial no mesmo período foi de 8,36%. Esse desempenho foi conseguido graças à renda fixa, cujo bom desempenho decorreu de uma estratégia tomada seis anos atrás, quando o fundo alocou grande parte de seu patrimônio em títulos públicos de longo prazo, com vencimento em 2030 e 2045, que pagaram altos retornos.
Na renda variável, o plano foi diminuir a posição em ações de empresas de commodities, por conta da desaceleração da economia chinesa, voltando-se para companhias ligadas ao consumo doméstico, diz Eduardo Garcia, diretor de investimentos da Real Grandeza. 'Devemos manter essa estratégia, já que, na nossa opinião, o mercado externo não vai reagir, enquanto os estímulos do governo brasileiro deverão surtir efeito, impulsionando o consumo interno.'
A Fundação Sistel, fundo de pensão de funcionários de empresas de telecomunicações, também conseguiu até setembro atingir sua meta atuarial, que é de INPC mais 5%. O patrimônio da entidade é de R$ 14,5 bilhões. O maior plano da fundação acumula rentabilidade de 16,2% de janeiro a setembro, ante uma meta atuarial de 8% no período, segundo Carlos Alberto Moreira, diretor de investimentos da Sistel.
'Fundamentalmente, contribuiu a estratégia da renda fixa. Fizemos há alguns anos um ALM [modelo que determina a aplicação dos recursos] desse plano, que prevê que 80% dos ativos da renda fixa fossem investidos em papéis com prazos superiores a 2020', explica Moreira.
Na renda variável, a rentabilidade de janeiro a setembro foi de 6%, abaixo da meta. Dois terços da carteira de renda variável têm gestão externa, que tem como meta o IBrX, enquanto a gestão interna agrega ações de empresas boas pagadoras de dividendos.
A Fundação Eletrobrás de Seguridade Social (Eletros) conseguiu, por sua vez, rentabilidade de quase 13% em seu plano até agosto deste ano, ultrapassando a meta de INPC mais 5,5%.
Mais uma vez, os investimentos antigos em renda fixa foram a tábua de salvação, segundo Jack Steiner, diretor de investimentos da fundação. 'Temos uma aplicação boa em renda fixa, feita há algum tempo, com taxas bastante elevadas', afirma Steiner.
Mesmo com os ganhos obtidos com a renda fixa em 2012, é consenso entre as fundações ouvidas pelo Valor que as estratégias de investimento deverão se diversificar nos próximos anos, por conta da queda da Selic.
'Sabíamos que os juros cairiam no Brasil, mas não achávamos que seria tão rápido. Não temos muito tempo para nos adaptar', afirmou Garcia, da Real Grandeza, para quem os retornos com a renda fixa não deverão se sustentar nos próximos anos.
A fundação pretende aumentar sua exposição à renda variável - hoje 70% do patrimônio está em renda fixa - e a investimentos estruturados. Por isso, iniciou análises este mês para mudar sua política de investimentos. Nos últimos 12 meses, a Real Grandeza ampliou de R$ 80 milhões para R$ 417 milhões o volume de recursos comprometidos para investimentos em Fundos de Investimento em Participações (FIP) e Fundos de Investimento Imobiliário (FII).
A Eletros - que tem 65% do patrimônio de R$ 3,1 bilhões em renda fixa - também aposta na mudança dessa proporção, com maior fatia da renda variável. 'Teremos que analisar de forma mais rigorosa para saber qual é a real capacidade de recuperação da economia brasileira', diz Steiner.
Fonte: Valor Econômico
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