O salário mínimo aumentou 9% e a aposentadoria daqueles que ganham acima dele foi corrigida em apenas 6,2%. Tal desequilíbrio reflete em perdas de até 30% em 10 anos
O governo bateu o martelo no percentual de reajuste para as aposentadorias e pensões de 9 milhões de brasileiros que recebem acima do patamar do salário mínimo. Serão 6,2% de aumento, o que corresponde à recomposição da inflação do ano anterior e fica bem abaixo dos 9% definidos para o salário mínimo. Sem ganho real, à medida que o tempo passa, o benefício do brasileiro tem encolhido rapidamente. Cálculos do escritório Lásaro Cândido da Cunha – Advogados Associados apontam que, com a manutenção da atual política de reajustes das aposentadorias e pensões, quem sai do mercado de trabalho hoje recebendo o teto de R$ 4.159, pouco menos de seis salários mínimos, pode preparar o bolso para perder 30% do rendimento em 10 anos, ou seja, estará recebendo perto de quatro salários mínimos em 2023.
Já em 20 anos, a projeção é mais sombria. Quem recebia o mesmo teto quando saiu da ativa pode se programar para viver com dois mínimos. Em 25 anos já estará praticamente na base do salário mínimo do país, caso as diferenças nas correções dos rendimentos sejam mantidas. Os cálculos dos advogados mostram ainda que quem se aposentou em 1991 com seis salários mínimos hoje recebe pouco mais de dois, ou seja, ganha R$ 2.083,70 a menos por mês. Isso porque as aposentadorias nem de longe acompanham a política de valorização do salário mínimo.
Os cálculos coincidem com números da Confederação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Cobap), que estima para este ano migração de 200 mil aposentados e pensionistas para a base do salário mínimo. Hoje, dos 28 milhões de benefícios previdenciários e assistenciais, apenas 9 milhões recebem acima do mínimo atual, de R$ 678. “Há 10 anos, mais de 15 milhões de brasileiros recebiam acima desse patamar. Estimamos que até 2020 praticamente todo esse contingente estará recebendo o salário mínimo”, aponta Moacir Meirelles, vice-presidente da Cobap.
E o futuro?
Com a previsão de menor renda na velhice, o jovem brasileiro, que vê sua expectativa de vida crescer, tenta fugir do aperto no futuro, correndo por fora com planos alternativos. Além da contribuição obrigatória à Previdência Social, cada vez mais cedo o brasileiro se preocupa com a poupança. Esse é o caso da comerciante Gleicia Luciana da Silva, 38 anos. Contribuindo com o INSS desde os 18 anos, ela pretende se aposentar antes dos 60, e prevê algumas décadas de vida como aposentada. “Não acho que as despesas vão diminuir depois da aposentadoria. Algumas saem do orçamento, como os gastos com educação dos filhos, mas outras entram, como os remédios e tratamentos.” Para evitar sufoco na velhice, há nove anos Gleicia contratou um plano de previdência privada, também quer investir em imóveis e prevê vida longa para o seu negócio, a loja Graffite Modas. “Não pretendo parar de trabalhar depois dos 60. Quero apenas reduzir o ritmo para ter tempo de descansar e viajar”, planeja.
O reajuste das aposentadorias e pensões no país gera debates. O economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas, é categórico. Ele diz que o governo não tem caixa para corrigir as aposentadorias acima da inflação. “O aumento real tem de decorrer de produtividade, que os aposentados não têm.” Segundo ele, o que deve ser feito é a recomposição da inflação, garantindo o poder de compra. Tharcísio de Souza, coordenador do MBA em administração da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), diz que o poder de compra dos aposentados tem se deteriorado com o tempo. Ele defende o ganho real como compromisso obrigatório do governo. “A valorização do salário mínimo é muito positiva, mas isso não significa que aqueles com benefício acima desse patamar devam perder seu poder de compra. O governo desviou o caixa da Previdência por várias vezes e agora quem contribuiu com a Previdência não tem uma velhice tranquila.”
Os cálculos do advogado Lásaro da Cunha e equipe também mostram que quem se aposentou há 20 anos com seis salários mínimos, por exemplo, hoje recebe 2,6 mínimos, ou seja, tem uma perda mensal de R$ 2.083,70.
Em tempos de baixíssimas taxas de desemprego, quem não tem do que se queixar é o sistema privado. Dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) revelam recordes movidos pelo interesse do brasileiro em complementar a renda. O mercado de previdência complementar aberta fechou outubro com R$ 6,2 bilhões em novos depósitos, segundo os últimos dados disponíveis. O volume é 51,44% maior que o apurado no mesmo mês de 2011. No acumulado do ano, os aportes no sistema somaram R$ 54,4 bilhões entre janeiro e outubro, expansão de 31,34% frente a 2011.
(Marinella Castro - Portal Uai)
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